top of page

A sorte está lançada!

- Pronto. O livro não é mais seu, Sheila Aragão!

Disse meu amigo, o também escritor Judivan Vieira. O meu mago padrinho (masculino de fada madrinha), o que me apresentou à Chiado Books. E aí eu caí na real.


Tal qual notícia de jornal, que quando chega às mãos do público, o jornalista não tem mais o domínio da história, quando isto acontece. O público modifica o que lê a partir da própria interpretação. Daí uma notícia são muitas histórias. Mas a verdade jornalística está garantida pelos fatos básicos relatados por vários veículos ao mesmo tempo. Notícia se propaga pela repetição a partir de fontes confiáveis. Aí, é verdade.


E com a Literatura? A coisa é um pouco diferente. Qual é a verdade? Se falamos em ficção, não há verdade. Se é biografia, falamos da verdade do autor a partir da história de uma personagem real. Se é documentário, é calçado na verdade de documentos. E se é autobiografia de ficção, gênero cunhado por Serge Doubrovsky em 1977, com referência ao seu romance Fils, autoficção combina dois estilos, paradoxalmente contraditórios: a de autobiografia e ficção.


Em 2012, eu me meti nisso! E fui aconselhada a não o fazer. Mudar o nome da personagem seria o mais prudente, diziam alguns amigos escritores. Mas porque não fazer? Nem tudo é verdade. Ou melhor, é a verdade que eu gostaria que fosse. Coisas reais, meu livro tem muitas. Mentiras, mais ainda!


Cada vez que reli e releio chego mais à conclusão de que todo escritor conta uma história que viveu ou assistiu ou alguém a contou (e assim de certa forma ele, o escritor, viu as cenas na medida em que eram contadas) ou sonhou (portanto viu em sonho). Em todos os momentos foi espectador ou protagonista dos fatos relatados.


Esteve ali, na história o tempo todo, botando o bedelho, como diria minha avó, o tempo todo. Futricando, fofocando, cutucando cada personagem que a partir de determinado momento, soltam as amarras do texto e saltam mundo a fora em total liberdade, deixando o dono da história a mercê de suas aventuras.


Na real, ninguém é de ninguém nessa coisa literária. Somos todos, autor, personagem e leitor cumplices que espreitam a história de alguém. Uma aventura sensacional, que para mim sempre foi sensorial, pois ouvi/criei a vida inteira trilhas sonoras, slow motions e cenas aceleradas dentro de minha cabeça como parte de um filme: o livro que eu estava lendo.

De tanto fazer isto na posição de leitora, quando tive a oportunidade, coloquei música no meu livro, toda vez que ela tocava na cabeça da personagem, principal. Achei que não era novidade. E todo mundo não pensa assim? Perguntei quando me perguntaram: “Como é isso?”


Demorou para eu conseguir colocar texto e música tocando para todo mundo do jeito que eu ouvia na minha cabeça. Mas agora, quase dez anos depois deu certo. E no dia 14 de julho vou apresentar ao público ao vivo NEM ÀS PAREDES CONFESSO – UM ENCONTRO DE AMOR E DE MAR ENTRE BRASIL E PORTUGAL, na Livraria da Travessa, no Shopping Casa Park, em Brasília. No dia 3 de agosto, na Livraria da Vila, na Vila Madalena, em São Paulo e no dia 10 de agosto, na Livraria da Travessa no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro.

Realmente o livro não é mais meu. Mas tenho certeza de que não é só do público. É nosso: meu, das personagens e do público. Sem este triângulo amoroso não chegaremos a lugar algum. Então, a sorte está lançada!


6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
WhatsApp Image 2021-09-08 at 15.53.41.jpeg
bottom of page